"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
)

"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
)

sábado, 3 de janeiro de 2015

Não há tempo mas há sempre imagem desse tempo



Para o público, para o espectador, para o consumidor, para o materialista, para o fútil, para o socialista, para o Homem, para o mundo. 

“Não tenho tempo”, diz cada um deles. É irónico, não faz sentido.

Não têm tempo para fazer nada mas parece que fazem tudo. Vão às compras, vão ao cinema, vão imensas vezes a restaurantes e a comida tem sempre tão bom aspeto. Não sei se é dos filtros colocados nas fotografias ou do apetite que tenho cada vez que as vejo, nostálgicas e brilhantes tipo sépia. Dizem o que sentem através de smiles e imagens bastante ilustrativas no Instagram. Identificam amigos, filmam concertos inteiros, vão a ginásios com muitos espelhos, querem uma Go Pro para mostrarem o mesmo numa outra perspetiva e com qualidade TOP. Não conseguem publicar sem rever e apagar o que, com ânsia, os outros sem tempo vão ver. Compram o último telemóvel daquela marca com a maçã mordida alusiva ao grande senhor da computação  Alan Turing e tiram-lhe uma fotografia com o telemóvel anterior para, sem tempo, a publicar. Não têm tempo para os filhos e netos, restante família e amigos, a não ser que reencontrem alguém após três anos sem se falar, para, sem tempo, mostrar ao mundo em sorrisos pretensiosos o quão gostam deles. Não há tempo para atividades, pelo menos para as que não vão ser filmadas para posteriormente terem “gostos” ou “partilhas”, ou quiçá comentários. Não há vontade para ver vídeos de cinco minutos ou reportagens de vinte sobre factos científicos ou história mundial contudo a vontade muda de cor se der para tirar uma fotografia à televisão enquanto se vê uma série ou um filme de domingo. Ai o domingo, esse dia tão bom para tirar autênticos retratos à televisão e publicá-las criticando essas empresas privadas com falta de bom gosto dando graças a Deus a existência da Internet. Deus esse que é apenas metafórico. Pois os que não têm tempo também não têm crenças, nem vão à missa. Lá não há wireless, nem smiles tristes para partilhar. 

É lógico que à custa de tudo isto, o povo distrai-se, diverte-se e conhece coisas novas e bonitas. O que me faz impressão apenas é o mau uso do atual, do inovador. 

Acordar numa nova realidade, num outro mundo, com outro público, outro espectador, outro consumidor, uma nova utopia. Com gente modesta, seres que convivem a cheirar o ar que vento nos traz com o cheiro das árvores e não o cheiro a fechado, a escritório, a quarto ou sala, a luz artificial, a flashes. Novos ideais para o Homem, tecnologias com outros focos, um mundo melhor.

Um novo 2015.
Um Feliz Ano Novo.

0 comentários:

Enviar um comentário