"Writing is a socially acceptable form of schizophrenia."
(E.L. Doctorow
)

"Words - so innocent and powerless as they are, as standing in a dictionary, how potent for good and evil they become in the hands of one who knows how to combine them."
(Nathaniel Hawthorne
)

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Tony Carreira

Esqueçam a crise, os problemas internacionais, a queda do Hélio e a sua frase de marca (“o medo é uma coisa que a mim não me assiste”) … vamos debater algo que já anda na minha mente e não consigo explicar: o impacto que este homem tem na sociedade.

Ricardo Araújo Pereira num dos seus “Boca do Inferno” disse mesmo que o Tony seria o maior poeta português e eu concordo. Senão vejamos: quantas pessoas sabem a primeira estrofe d’ “Os Lusíadas” de Camões ou um dos poemas da “Mensagem” de Fernando Pessoa? E quantas pessoas sabem de cor a letra da música “tu e eu “ do Tony Carreira? Pronto, acho que não preciso de dizer mais nada…
 
Ele deve ser o único cantor que nos concertos não precisa de cantar, aliás ele se só comparecesse já estava o concerto feito. Ser virmos bem, ele só canta a primeira frase de cada música, o resto fica para as milhares de donas de casa, cabeleireiras, comerciantes, peixeiras (e por ai fora) que gritam as palavras como se não houvesse amanha. É quase irreal, o homem se só ficasse lá no palco, com o seu fato cheio de lantejoulas, já não tinha de fazer mais nada. Aposto que um dia ele vai tentar mesmo isso.

Se quisermos atrair pessoas para a política podemos usa-lo. Tal como o Pavilhão Atlântico, o hemiciclo ficava a abarrotar de pessoas com cachecóis e t-shirts com a cara do homem e era só deixar o Tony ir para o púlpito com uma guitarra para cantar o “porque é que vens”. O homem já é pau para toda a obra: piqueniques, feiras de gado, inaugurações de auto-estradas (ok, esta ainda não, mas não deve faltar muito), já para não falar nos casamentos e baptizados onde no karaoke tem sempre uma música lá espetada.

Como qualquer poeta também deixa obra feita, de seu nome Mickael e David Carreira, ou seja, são mais 20 anos de berros contínuos que os maridos da elite que enumerei a bocado têm que gramar … já para não falar de que as vezes têm de ir com elas aos concertos (já viram bem o drama? Devem ouvir mais vezes a mulher a berrar “Tony, Tony, Tony” do que o seu próprio nome …)

Tony Carreira … um ícone, um cantor, uma pessoa “com sonhos de menino”, o único que consegue transformar uma exposição de produtos agrícolas nacionais num apoteótico acontecimento com mulheres a gritar tanto como no Eros Porto ... Se este homem fosse espanhol, ele e o Júlio Iglésias dominavam o mundo.

Pronto, já vos fiz reflectir um bocado? Vá, agora voltem lá as vossas vidas que isto não é só cantorias (se por acaso tem um CD do Tony no carro ou uma música, acalme-se apenas faz parte de uma nação de pessoas que foram levadas na corrente ...)

E tal como a chuva ...

... mais uma sondagem acaba aqui no blog. Com a chegada do calor, ja andamos todos de olhos na praia e nos locais onde queremos ir passar as nossas férias (para aqueles que vão estar a trabalhar e as palavras que eu disse magoaram um bocado, desculpem lá qualquer coisinha). Bem, falando de resultados que são positivos (como é óbvio não estamos a falar da nossa economia), passamos a mostrar os resultados finais da sondagem que tinha como pergunta "O talento para a escrita é valorizado no nosso país?":

Sim - 1 voto (20%)
Não - 4 votos (80%)

sábado, 16 de julho de 2011

Orgulho luso não é para ferir

“Podem baixar-nos os salários, podem deixar-nos de rastos, mas nunca deixaremos que nos ofendam” … ok, não é bem como o filme Bravehart, mas é assim que nós portugueses nos sentimos.

A Moody’s ao considerar Portugal como sendo “lixo” abriu uma guerra contra um povo que deixa passar muita coisa, menos ser atacado na praça pública. De um momento para o outro já não importa que haja cortes e impostos novos, importa sim mostrar a uma agência que estão errados ao tratar-nos assim e que somos pequenos, mas temos as nossas armas.

A crise é posta para trás das costas e nesta semana que passou o que interessou era assegurar que a Moody’s se arrependesse daquilo que fez. Vídeos, mensagens no Facebook, ataques ao site da agência, montagem de imagens que ridicularizava a situação … tudo deu para mostrar que somos artistas no que toca ao contra-ataque.

Mas ser só o povo a mostrar revolta não chegou. Passos Coelho e Luís Felipe Menezes foram algumas das vozes activas onde se destacaram também o inigualável Alberto João Jardim (que disse que quer a Moody’s fora da Madeira o mais rapidamente possível) e até o próprio Cavaco Silva (que deu um puxão de orelhas à agência). Este último surpreendeu-me. Passa a vida sem dizer nada de jeito e de bom para nós quando é preciso, mas quando vê que vai ser ‘ouvido’ no estrangeiro toca a ser bonito nas palavras para mostrar que ainda está no activo … tudo pelo bom nome de Portugal.

A agência de rating norte-americana cortou mesmo o acesso ao website a todos os utilizadores que usem um endereço de IP português, ou seja também sabe defender o que leva a que nós ainda não possamos cantar vitória … Esta é a nossa “novela” de Verão sem dúvida nenhuma.

Vamos falar de como tentar sair da crise? Não, vamos antes bloquear o site da Moody’s porque eles classificaram-nos mal (Nota: A UE já veio mostrar que esta descida do ranking não conta para nada, mas o que é que isso interessa? Quem nos fere o orgulho não sai impune, era só o que faltava…)

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Follow the dream... and leave out all the rest...

Traduzindo o título,porque nem toda a gente é obrigada a falar inglês, "segue o sonho... e abandona tudo o resto"...


Ao longo de um grande percurso a que muitos chamam de vida, todos nós temos por vezes objectivos, alguns mais profundos que outros, a que nos atrevemos a chamar de sonhos, pois só vemos neles uma mera possibilidade de os conseguir atingir fora do mundo ilusório que fabricamos enquanto dormimos...

Por vezes há quem nos encoraje, outras nem por isso...
O que acontece quando nos decidimos a seguir, ou perseguir um sonho é que é algo bem mais dificil de explicar, ninguém nos avisa de tudo o que temos de deixar para trás, por vezes temos de tomar decisões dificeis, por vezes temos de dar de nós mais do que conseguimos... E no fim?

Com uma grande ajuda da sorte, podemos conseguir atingi-lo e aí talvez recuperemos um bocado de tudo o que investimos...
Sem a sorte, e queiram ou não admitir, a sorte é crucial, acabamos a "dar á praia" sem nada... Não atingimos o que queriamos e ainda perdemos muito pelo caminho...

Por isso...
Boa Sorte para todos os que seguem o sonho!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Saramago fez história aqui

Nunca desde o início deste blog uma sondagem foi alvo de tão pouco votos, e foi com Saramago que isso aconteceu. Pela primeira vez pusemos um leque de obras a escolha e de certo modo percebemos a pouca afluência (o início das idas à praia e a dificuldade de só escolher uma obra ... mas a primeira opção é mais viável).

Posto isto, a pergunta "Fez há pouco tempo um ano desde que Saramago faleceu. Qual acha que foi a sua melhor obra?" os resultados foram:


Memorial do Convento - 1 voto
A Jangada de Pedra - 0 votos
Ensaio sobre a Cegueira - 2 votos
Caim - 0 votos
Outra obra - 0 votos

quarta-feira, 6 de julho de 2011

“As pessoas deviam de ter mais respeito por aquilo que não lhes diz respeito”


Haver uma constituição, com limites a rumores prestes a ser espalhados, han? Não, depois não tinha tanta piada ir ao cabeleireiro.

O que era a vida com respeito pela vida dos outros? Vamos por fases porque faz-me lembrar uma espécie de desintoxicação.

Inicialmente iria doer, dar comichões ou até mesmo vontade de ir à janela da vizinha mais próxima.

Depois com os medicamentos certos (televisão, ler, dormir e vá vida própria) o mundo voltava a sorrir…ou é só mesmo efeito dos medicamentos.

Algumas recaídas no processo, aquela cusquice habitual de querer saber quem cantou o “Chupa Teresa” à Teresa, começa a bater forte e dá uma certa nostalgia.

Contudo durante um período de dois meses (é um número à sorte sim? Calma!), o mundo que antes só sorria agora também corre, ouve música, cozinha e tem conversas sem meter o dito cujo “bedelho” no mundo dos outros.

Dava valor a quem tentasse. Mas se o fizessem adivinhem de quem iam falar os outros? ;)

Não os julguem. São pessoas, se fossem cães era mais fácil de lidar com isso.

Oh, claro que dever deviam, mas não era a mesma coisa.

"Ano novo, vida idêntica"



Idêntica, semelhante, igual, parecida, vai tudo dar ao mesmo.

E a vida também vai. Seja ela de 1919 como 2013 (e peço desculpa aos maias por acreditar no ano seguinte ao do fim do mundo).

Em 1919, o azeite galo governava o mundo. Actualmente o azeite galo não governa o mundo mas o sabor é idêntico.

Isto é, o estado muda mas o conteúdo não. Atitudes, feitios , comportamentos típicos e situações passadas vão-se repetir. Lógica da batata.

Um vaiar a isso.

Não gosto da palavra repetir. Já sei que quando um momento é bom até dá jeito mas chega ser só uma vez. Enquanto, se for mau…dá para entender a ideia certo?

E passar por uma vida idêntica, com a parte das repetições parvas, que nos estragam o esquema? No thanks !

O que fazer quando isto tende a acontecer?

- Quando se ouve a vozinha interior (eu já ouvi isto em algum lado?!), tentar não ouvir ou não responder ao que se ouve.

- Quando se vê o tal e depois volta a vozinha interior (tu és muito parecido com o meu ex), fugir ok? Se é um ex é porque não resultou.

- Quando se forçam momentos…opa não os forcem que assim não se repetem está bem?

Ninguém disse que ia ser fácil. Mas repetir é fácil.

Fazer por ter um ano e uma vida ainda melhor supera uma vida nova e um ano novo.

Façam se faz favor.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

E esta, hein??

"Kadhafi investiu na dívida do BES e do BCP - o regime líbio, através do seu fundo soberano, investiu no BES (12.35 milhões de euros) e no BCP (12,8 milhões de euros)"

Num momento em que se fala de cortes em tudo e mais alguma coisa, de fazer mais furos num cinto que daqui a bocado só tem mesmo buracos e numa mentalidade do “tem que ser para salvar o país da crise” surge isto. 

O senhor Kadhafi, o homem que ainda pensa que manda no seu regime, gastou dinheiro no nosso país, o que reforça ainda mais a ideia de que só quem é louco é que investe cá. Uma coisa é certa: lá que é original é. Nós tínhamos um caso parecido só que fazia o contrário (Vale e Azevedo … não é preciso dizer mais nada, pois não?).  

Investiu no BES, portanto a escolha está reduzida a três factores: Ou não tem pais ricos, nem ganhou a lotaria ou simplesmente gosta dos anúncios do Ronaldo onde ele diz que não gosta de perder nem a feijões. Do outro lado falamos do Millenium BCP, lugar onde agora todos os gestores se julgam “especiais”, portanto também confere com o estado psicológico do ex-líder da Líbia (ainda não foi deposto eu sei, mas tenham calma que o homem ainda não saiu porque tem malas a mais para arrumar, não estão a espera que ele saia a correr…).

De certo modo é de enaltecer a força de vontade do homem. Ele luta sozinho contra o Mundo … literalmente. Todos esperam que ele saia do poder, mas o homem não deve nem ter televisão nem Internet, porque para ele está tudo normal. Já não bastava vestir-se com um tecido que faz lembrar uma cortina que a minha mãe comprou como ainda é persistente … se tivesse uma lâmpada na cabeça era um abajur que andava e falava (é provável que já haja isto no IKEA).

Para terminar, e olhando para os valores referidos no inicio da crónica, só me apetece contactar o homem e dar-lhe o meu NIB de conta, mas se calhar gastava o pouco que eu tenho para atacar um sitio qualquer … é melhor pensar isto com mais calma que para más decisões já bastaram os submarinos do Portas.

Águas tormentosas

Abro os olhos.

Sinto o chão quente e irregular por baixo de mim. O azul do céu está vedado por nuvens cinzentas. Nunca vi vento tão inquieto… Ouço o mar, as ondas a bater nas rochas com uma força imensa. Onde estou eu afinal? Ao levantar reparo estar numa falésia. Estarei a sonhar?

Não estou só. A poucos metros de mim reparo uma figura: «Desculpe, pode ajudar-me? Que sítio é este?», digo eu, mas resposta é coisa que não obtenho. Será que não me ouvira? Aproximei-me e voltei a repetir a questão. Nada saiu da sua boca.

À medida que me aproximava daquele ser, começo a aperceber-me de novas características da enigmática figura: era uma rapariga, ainda jovem. Não era feia, mas algo atacava o seu rosto – não era, com certeza, nenhum animal e o Sol permanecia impotente face à grande muralha cinza que se abatia por cima de nós; era algo vindo do seu interior. Continuei a dirigir-me a ela, a cada passo a curiosidade aumentava. Que fazia ali imóvel, a olhar para as águas bravas? Toquei-lhe num ombro e nem um movimento; chamei-a e a mudez teimava em silenciar o ambiente. Algo estava errado…

Finalmente vi a sua face: realmente era bonita, os olhos pareciam negros à falta de luz e eram de tal forma expressivos e cativantes que pareciam ler-me por dentro. Mas da mesma maneira que o seu olhar penetrava os meus pensamentos, o meu lia a sua expressão vaga e carregada de sentimento com igual perspicácia.

Na tormenta do mar, via aquela que tinha dentro de si. A força dela deixava-a confusa, sem rumo. Por mais que tentasse acalmá-la ainda não conseguia impedir o seu regresso. O seu coração falava através dos seus olhos: estava cansado e frágil, mas não desistiria da luta. Iria até ao seu último batimento de revolta, em busca de uma luz para guiar este corpo a quem dá vida.

Entendia que ela estava no seu mundo, a pacificá-lo, a tentar reacender a luz que a traria de volta para a realidade. A diferença é que, quando voltasse, teria a força para domar o mar e as nuvens e poderia sorrir de novo, nada a impediria. Apenas falta a luz, mas onde está ela?

De repente, um monte ergue-se das águas e quebra as nuvens. Vê-se um pequeno raio de Sol. Será este o caminho que ela espera?

Vou caminhando até lá. Pelo caminho vou deixando as migalhas na minha busca para que ela possa igualmente encontrar a luz e tomar estas nuvens e este mar horrível, acalmando o seu mundo e dando uma nova hipótese a si mesma de «re-sorrir».